Os quarentões devem lembrar do sufoco que vivemos no início dos anos 90 com uma inflação absurda, galopante e com os preços aumentando num ritmo alucinado: numa hora o preço da mercadoria era um, quinze minutos depois o preço era outro.
Na ocasião essa majoração dos preços era atribuída à inflação.
Mais tarde, porém, quando finalmente se conseguiu conter a inflação em patamares mais civilizados a verdade veio à tona: muitas empresas aproveitavam a inflação descontrolada para aumentar sua lucratividade baseando-se num modelo de negócios que se beneficiava do descontrole da população sobre a desvalorização do dinheiro.
Na ocasião essa majoração dos preços era atribuída à inflação.
Mais tarde, porém, quando finalmente se conseguiu conter a inflação em patamares mais civilizados a verdade veio à tona: muitas empresas aproveitavam a inflação descontrolada para aumentar sua lucratividade baseando-se num modelo de negócios que se beneficiava do descontrole da população sobre a desvalorização do dinheiro.
Hoje vemos o mesmo fenômeno mas noutra esfera: a tributária.
Que o Brasil tem uma carga tributária muito elevada isso não é segredo e nem novidade.
Atribuem-se a essa carga tributária os elevados preços que o brasileiro paga em todo e qualquer produto ou serviço: de telefonia a petróleo, de carro a geladeira.
Mas a verdade parece ser bem outra: bancos, montadoras, concessionárias de serviços públicos, lojas de produtos importados e etc. usam os tributos como subterfúgio para manter seus preços em patamares astronômicos.
O escândalo da Daslú, por exemplo, expôs como um calçado cujo preço de custo é US$80,00 chega ao destinatário final brasileiro ao preço de R$ 3.000,00.
As maracutaias atribuídas à empresa dão conta de que ela subfaturava mercadorias para pagar menos impostos e com isso seu lucro chegava às nuves.
O que causa espanto é que um produto de US$80,00, mesmo que negociado ao câmbio de R$ 2,50, chegaria ao Brasil pelo valor de R$ 200,00. Se a carga tributária acrescida de custos fosse equivalente (mas não é) a 6x o valor do produto em questão ainda assim estaríamos falando de um produto cujo custo estaria na casa dos R$ 800,00 vendido a R$ 3.000,00 para o consumidor que, ao final, pagaria cerca de 400% pode lucro.
O mesmo se dá com as montadoras. O caso da CAOA serve de exemplo máximo da distorção a que se pode chegar: um veículo que no exterior - para o consumidor final - custa algo como US$ 30.000,00 (é o caso do carro Santa Fé) hoje é vendido a R$ 99.000,00 (noventa e nove mil reais) "beneficiado pela baixa de IPI". A questão é que há mais de um ano atrás, quando o dolar estava no patamar de R$2,00, esse mesmo carro era negociado por cerca de R$ 230.000,00. Curiosamente o dólar abaixou e o valor do carro se manteve o mesmo. Nesse ínterim veio a crise, o dolar aumentou e o carro despencou de preço numa proporção que outros carros da mesma marca não tiveram.
As demais montadoras brasileiras todo ano batem record de venda mas o preço é sempre alto e nunca cai: vejam se por acaso algum produto teve seu preço beneficiado pela queda do CPMF?
Bancos também: lucram ano após ano, batem recordes e a situação do Brasil é culpa do imposto?
A questão é que no Brasil, sobretudo as grandes empresas, têm lucratividade que jamais teriam em qualquer outro lugar do mundo e remetem divisas para suas controladoras no exterior. Tal como na época em que o Brasil foi descoberto, ainda hoje somos vitimados pela extração de riquesas e exploração de nosso povo inculto.
Os empresários obscurecem a verdade para garantirem a satisfação de sua ganância e não podemos tolerar mais isso.
Dizer que os preços de tudo são elevados por causa dos impostos é mito.
Temos que focar nossas lutas por um país mais justo, no qual os impostos sejam de fato bem utilizados e os preços sejam honestos, sem desculpas esfarrapadas.
Que importa se os impostos consumirem 50% de nossa renda se cada um de nós não precisar mais arcar com o custo financeiro e social de escolas párticulares, planos de saúde privados, previdência privada, seguros contra furto e roubo e tudo mais que, no fim das contas, pagamos em dobro porque o destino dos impostos é o bolso dos corruptos?
Brigar para diminuir imposto é desfocar a luta: devemos moralizar o país, exigir que empresários e políticos sejam postos em seus devidos lugares. Uns na cadeia e outros na falência, porque é isso que muitos deles merecem.