Estou chegando aos 40 anos e devo admitir que já estou na crise típica dessa idade. A experiência de me ver cada vez mais velho não é confortável.
Sei que há os que, estando com 50, 60, 70 e por aí vai, vão debochar dizendo que a jovialidade está na cabeça ou apontar gente de idade muito mais elevada que tem vigor e disposição física de gerar inveja.
Pois bem, dizem que no ramo jornalístico fato que vira notícia é aquele incomum, v.g., um cachorro que morde uma pessoa é normal e narrar esse fato não vende jornal, mas um homem que mordeu um cachorro - pelo bizarro e incomum do fato - é notícia e vende jornal.
Aplico o mesmo raciocínio a essa idéia da velhice. Envelhecer saudável e com jovialidade é incomum e para poucos. Invariavelmente as pessoas aos 40 não são como eram aos 20 e aos 60 também não são como aos 40. Nosso organismo perde força e se deteriora. Poucos são os que passam ao largo das mazelas que o envelhecimento proporciona.
Mas nomeu caso a preocupação é menos com minha atual jovialidade mas com a certezade que os últimos 20 anos transcorreram rapidamente, muito mais rápido do que eu poderia esperar. E a cada ano sinto que o tempo avança com mais e mais velocidade.
Logo, minha grande e pessoal comoção vem da certeza de que, caso eu não morra antes, os próximos 20 anos poderão passar ainda mais velozes do que os últimos 20 anos.
Mas o que fazer para frear o tempo?
Enganar o cérebro, essa é a resposta.
Realizar novas atividades, algumas antes jamais cogitadas. Hoje é que estou apto a entender o que dizia a minha avó: "Antes tarde do que nunca."
Nunca é tarde para aprender a surfar, tocar gaita, escrever um romance, ser pai, ter um gato, fazer mestrado na europa, aprender a jogar tênis e velejar. Essas coisas, dentre outras, eu quero fazer antes que termine a minha vida. São as que menos referências atuais eu tenho em minha vida e que, justamente por isso, vão demandar mais tempo para meu cérebro aprender e, assim, retardar sentimento de tempo passando.
Ademais, nunca é tarde para descobrir as coisas.