Fiz uma pausa para reverenciar, no post anterior, uma poesia de Fernando Pessoa (Poesia em Linha Reta) quando me veio à mente outra poesia, desta vez de Carlos Drumond de Andrade: "A Bunda, que engraçada".
Com esse título muita gente duvidaria que se tratasse, de fato, de palavras daquele poeta. Certa vez cheguei a ser indagado pelo meu então professor Gabriel Challita se, por acaso, eu teria encontrado esse poema na internet.
O curioso é que logo me veio à mente a questão da garota hostilizada na Uniban e daquele bando de alunos perversos que, sem pudor, demonstram-se intolerantes, reacionários, preconceituosos, machistas e absurdamente incultos como podemos observar do link abaixo
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2009/11/09/ult5772u6009.jhtm
Aliás, tantos para essa gente quanto para outros brasileiros provincianos que apoiaram a atitude "talebanista" dos alunos da UNIBAN penso que a saída talvez fosse ampliar seu horizonte intelectual por meio de visitação a museus e bibliotecas, vem como viagens para outros países a fim de conhecerem um pouco mais sobre o que é ser civilizado.
Quem sabe, ao se depararem com as pinturas e as esculturas belíssimas de corpos nús espalhadas no Louvre, Prado, Museu Nacional de Nápoles, assim como em outros museus mundo a fora, mudassem sua perspectiva de vida. Claro que por via das dúvidas eu sugeriria à direção desses museus que protegessem as obras de artes antes que num arroubo de proteção à moral e a ética alguém resolvesse destruí-las.
Nem mesmo em países como Argentina, Itália e Espanha onde a Igreja Católica tem tanta influência nos valores e nos costumes quanto aqui (senão até mais do que aqui) se vê alguma barbaridade como o evento da Uniban mesmo quando as moças usam saias ou roupas ainda mais curtas, mais cavadas e infinitamente mais reveladoras do que a menina agredida em referida faculdade.
A verdade é que nem é preciso viajar, basta ir a bibliotecas e buscar livros que tratem do tema.
Por isso segue a contribuição de Carlos Drumond para que essas cabeças retrógradas possam aprender alguma coisa sobre estética e, quem sabe, ao invés de ver imoralidades onde não existem possam apreciar sem maldade ou falsos pudores aquilo que a natureza fez de belo:
"A bunda, que engraçada
A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.
A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda
redunda."