A palavra "flush", em inglês, tem diversos significados: rubor, descarga de aparelho sanitário, acesso de febre ou de calor, dentre outros.
Aqui pretendo tratar de assuntos que fazem ruborizar alguns ou que causam calor a outros mas que, definitivamente, não são reflexões que pretendo jogar descarga abaixo.
Ontem ao voltar para casa procurava uma música interessante no rádio e pensava no post do Marcão de dias atrás sobre o cinema brasileiro. Não achando nada que para satisfazer minhas necessidades musicais, desisti e lembrei que era a última sexta do mês, portanto dia do programa do Dan Stulbach com patéia no teatro da Livraria Cultura. Fiquei surpreso quando descobri que o convidado do dia era Hector Babenco, um representante de nosso cinema mesmo sendo argentino. Na verdade nunca gostei do cara, ou melhor, não gostava dos filmes que sabia que eram dele, mas não sabia nada sobre ele. Foi uma oportunidade de conhecê-lo um pouco. Aliás, fiquei sabendo de muita coisa sobre ele, e mesmo sem gostar de suas obras, passei a admirá-lo por sua história.
Para quem tiver interesse em ouvir o programa segue o link:
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
São Paulo completou ontem 456 anos sem ter nada o que comemorar.
Sujeira, trânsito, serviços públicos mal prestados, tributos nas alturas sem o devido retorno aos contribuintes, saúde em cacos, pavimentação urbana tosca, escolas de dar medo, segurança pública ineficiente.
Nossa cidade traz a frase NON DUCOR DUCO estampada em sua bandeira mas é triste ver o estágio avançado de decrepitude a que nos submetemos enquanto coletividade.
Gente porca, administradores públicos incompetentes, políticos de dar vergonha e eleitorado ainda mais vergonhoso.
Se aqui as coisas seguem essa linha, nem quero imaginar o resto do Brasil...
Este ano "Salve Geral" foi o filme indicado pelo Brasil para concorrer ao Oscar.
Mas, graças a deus, está fora do páreo. Espero que assim seja sempre que a temática tiver como objeto principal ou pano de fundo a violência, a pobreza, a marginalidade ou outras mazelas do Brasil.
Não sei bem porque as produções nacionais escolhidas para representar nosso país são, senão sempre ao menos quase sempre, filmes que retratam as várias facetas da miséra, da pobreza e da violência urbana no Brasil.
Claro que esse poderoso mecanismo de comunicação que é o cinema, ao insistir nesse conceito de filme, reforça a imagem externa de que o Brasil é um país de miseráveis, bandidos e putas, numa demonstração nítida de falta de criatividade, ousadia. poesia e talento genuíno.
Para muitos se está apenas retratando a realidade de nosso país por meio de tais filmes.
Para outros tantos, dentre os quais eu me incluo, essa asquerosa tendência equivale à total falta de comprometimento com o ideal de externar o que em nosso País há de positivo. Afinal, maravilhas por aqui também existem de sobra e são tão verdadeiras quanto a pobreza e a violência vendidas nos filmes.
Entendo que há no cinema nacional o mesmo recalque que muitos brasileiros têm quando imaginam que tudo que vem de fora é melhor e que tudo que vem daqui não presta. Ou seja, enquanto outros países escondem seus problemas das vistas dos estrangeiros e fomentam a autoestima nós, ao reverso, escancaramos nossas mazelas e estraçalhamos a autoestima do brasileiro.
Gosto de prestigiar o que é nacional, sobretudo o cinema e a música. Por isso é com o coração triste que digo: AINDA BEM QUE ESTE FILME NÃO CONCORRERÁ AO OSCAR!
Dia após dia cientistas acompanham o comportamento dos animais para saber se as habilidades humanas são só humanas ou se outros animais também as detém.
Sabe-se, por exemplo, que chimpazés e gorilas podem se comunicar com o uso de palavras por meio da linguagem de sinais de surdos-mudos. E a partir de palavras criar sentenças. Sabe-se também que entre primatas há violência gratuita, assim como manifestações de afeto e solidariedade que antes acreditava-se serm restritas aos humanos.
Ficou provado ainda que primatas sabem criar e usar ferramentas, enquanto outros têm capacidade de somar e diminuir.
Golfinhos, segundo pesquisa recente, atendem por nome próprio; cachorros demonstram-se capazes de identificar um objeto a partir de seu nome ou sua imagem e aprender palavras como uma criança de 02 anos.
Sabe-se, por exemplo, que há várias demonstrações que a homossexualidade não é restrita ao ser humano, assim como também não são só os humanos que adotam a linha da fidelidade conjugal.
Nenhum animal não humano, contudo, demonstrou capacidade de defender, como fazem os advogados, outro animal - seja da mesma espécie, seja de outra espécie - sem o uso da força bruta e diante de seus pares.
De fato tem pontos polêmicos mas aquilo que a mídia vem tachando de porta aberta para a censura, simplesmente, não é do modo como tentam pintar os jornalistas, repórteres e outros tantos profissionais que se entendem acima da ordem jurídica.
A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão são como todos os outros direitos e prerrogativas:
a. existem para que seus beneficiários possam exercer melhor seus deveres;
b. devem corresponder efetivamente a contrapartida social a que se orientam e se destinam;
c. tem limites e não somente podem como devem ser estreitados sempre que estejam em conflito com outros princípios constitucionais hierarquicamente superiores como a dignidade da pessoa humana, por exemplo.
Não existem direitos cujo exercício não esteja condicionado ou limitado para prevenir abusos e resguardar bens e valores mais elevados.
No Caminho, com Maiakóvski (Eduardo Alves da Costa)
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!
Já faz algum tempo em que a virada do ano é seguida de fatos reincidentes. É como se víssemos um filme velho: aumento de pedágio e outras tarifas públicas, aumento da taxa de transporte urbano, alagamentos, desastres ecológiocos e por aí vai.
Este ano não foi diferente!
A exceção se deve aos eventos políticos - que costumam ocorrer só depois do carnaval - e que este ano já começaram em Janeiro: o Exmo. Sr. José Roberto Arruda governador do DF logrou alocar seus amiguinhos nas comissões que vão analisar os pedidos de impeachment, o que já é um passo para conduzir a questão para a pizzaria.
Mas o início do ano nada mais é do que o prefácio do que vamos assistir ao longo dos mais de 300 dias seguintes.
A cada ano que passa a impressão que tenho é que tudo se repete no cenário político e esses fatos mais do que bastariam para que o brasileiro fizesse uma reflexão mais séria sobre como ingressarmos novos anos "com o pé direito".
Não basta desejar a todos FELIZ ANO NOVO! É preciso buscar a NOVIDADE no novo ano. Afinal, gostemos ou não, nossas realizações pessoais sofrem direta influência das realizações e frustrações dos demais indivíduos e da coletividade como organismo social que está subordinado à política e aos políticos.
Se não nos movimentarmos, se não nos mobilizarmos, o que será de nós como Nação?
Haverá eleição este ano. Não pense que nosso voto muda muita coisa se nós não formos militantes políticos e se não acompanhamos nosso candidato de perto. E quando eu falo "de perto" é conhecendo-o de fato como pessoa, como amigo, antes de ser político. Não basta acompanhar as coisas pelos jornais é preciso entrar no âmago do que é política. Filiar-se a um partido ou participar da reuniões partidárias já é um bom começo.
Além disso, é preciso apostar na novidade, mas na novidade séria, ou então estaremos cometendo os mesmos erros dos anos anteriores.