quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Delegado x Paraplégico

Hoje um jornal de grande circulação em São Paulo noticiou algo que é apavorante: "Um advogado cadeirante apanhou de um delegado em São José dos Campos (91 km de São Paulo), em briga por estacionamento em vaga pública reservada para pessoas com deficiência."

Se uma autoridade policial bate noutra pessoa indefesa e fisicamente debilitada, imagine o que ele é capaz de fazer com pessoas sem deficiência????

A questão foi a seguinte, segundo a vítima, que é advogado e cadeirante, esta flagrou o delegado em questão (que não tem deficiência alguma senão, talvez, de cunho moral) estacionado na vaga especial, em frente a um cartório de São José, e foi tomar satisfações tendo sido agredido com coronhadas.

O cadeirante afirma que o delegado, ao ser admoestado pelo erro, o chamou de "aleijado filho da puta", mesmo estando estacionado em vaga exclusiva de deficientes...E como se não bastasse o desrespeito verbal, a descompostura profissional e a falta de urbanidade, referido delegado seguiu além: partiu para a ofensa física. Com sua arma de fogo em punho, desferiu-lhe coronhadas, bateu em seu rosto com a ponta da arma até ferí-lo. Tanto assim que o cadeirante mostrou à reportagem da Folha uma camiseta com manchas de sangue, que diz ser consequência da agressão, sendo respaldado por uma funcionária do cartório que também diz que viu o cadeirante sangrando após a briga.

O OUTRO LADO
Já o defensor do delegado diz que ele é que foi "intimidado" e que estava parado na vaga especial porque sua mulher está grávida (GRAVIDEZ É DEFICIÊNCIA FÍSICA??????) e negou que seu cliente tenha agredido com coronhadas o cadeirante.

Segundo afirmou, o delegado só deu "dois tapas" (como se isso fosse pouca coisa) porque, na sua versão aparentemente risível, os "dois tapas" desferidos contra o cadeirante só se deram após  ser xingado e receber uma cusparada na cara!!!!

Afinal, como disse ele, "esse cadeirante procurou o confronto."

Asseverou: "Ele [delegado] não entendeu o que estava acontecendo. Desceu do carro e o cara veio com a cadeira de rodas para cima dele. [Morandini] cuspiu de novo e o xingou, então ele [delegado] pegou e deu dois tapas no cara."

CONCLUSÃO
Alguns absurdos se depreendem da tosca defesa do delegado em questão:
a) Ele, uma autoridade policial com competência para dar voz de prisão a alguém que o ofenda (cusparada é uma contravenção penal conhecida por "vias de fato"), preferiu esbofetear a pessoa ao agir em conformidade com a lei e com a postura que se exige de alguém investido em tal cargo;
b) Ele, um sujeito fisicamente íntegro e portando arma de fogo, sentiu-se afrontado e temeroso por um cadeirante desarmado. Logo ou é covarde, ou é destemperado ou é mentiroso e nessas duas circunstâncias não poderia, jamais, estar investido num cargo de tamanha relevância;
c) A distância de altura entre uma pessoa (que não seja anã) comum e um cadeirante já bastaria para que uma cusparada dada por este último não atingisse a cara do primeiro senão em caso daquele ser campeão de cuspe a distância tornando inverrosímil a "desculpa" esfarrapada dada pelo covarde delegado.

Em que mundo estamos??? Noutras épocas as "autoridades" faziam e aconteciam mas, sempre, na surdina, veladamente, preservando, ao menos, a postura pública que seu cargo exigisse! Mas hoje o Brasil está vivendo uma crise moral histórica em que autoridades "pintam e bordam" à luz do dia, sem medo de serem punidos e sem o mínimo pudor de que sua atitude seja - além de ilegal - imoral.
Sob nenhum ângulo que se olhe, aquele delegado agiu bem: em momento algum ele (delegado) nega ter estacionado seu veículo em vaga que lhe é vedada, admite o mínimo de violência despropositada e dá como justificativa para seu destempero uma atitude afrontosa do "cadeirante", atitude essa que, ainda que fosse verdadeira e ofensiva, não daria sustentáculo ao mínimo de violência perpetrada.

Eu não sou um fã de Gandhi mas nem por isso deixo de admitir que ele foi uma pessoa de inteligência e de caráter incomuns. Por isso cito aqui uma frase a ele atribuída e que me parece que cai como uma luva neste caso:

"A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível."




9 comentários:

  1. Puta merda!!!!!!!!!!!

    PS. ja descobriu alguma coisa la que vc havia mencionado no post anterior?

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  2. Quando vi a notícia, tinha plena certeza de que você postaria aqui...

    A este propósito, alguém reparou quantas vagas de idosos e deficientes são ocupadas por pessoas que não o são? Mais um aspecto do país em que qualquer direito é relativo.

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  3. Roger,

    tenho que concordar contigo, pela manhã ouvi este assunto e pensei, merece ser postado.. até iria ligar para o Má, mas ele foi mais rápido.

    Má,

    de fato é triste toda esta situação, mas as pessoas perderam o limite do bom senso e da realidade. Se os desejos dele estão reprimidos em fç da gravidez... problema é dele!

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  4. Oi A. Marcos, quando pensamos que ja vimos de tudo, descobrimos que ainda temos muito para ver.
    Situação lamentável, principalmente vindo de uma autoridade pública, que deveria zelar pela ordem, além de servir e proteger.
    P.s: sobre a sua colocação no meu post, o meu desconforto em relação a ex, só acontece por que ela não me respeita. Acha que ainda pode mandar e desmandar no meu marido, sob a desculpa que tem um filho em comum.
    Ele tem uma outra filha, que inclusive mora ao lado da minha casa e meu relacionamento com a mãe da menina é muito tranquilo, nos respeitamos e nos tratamos muito bem.
    Abraços

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  5. Concordo plenamente com a Fabiane!!!!
    Puta que Pariu mesmo!
    beijocas,
    Mari

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  6. Caraca... concordo com você "gravidez é deficiência", um cadeirante é ameaçador!!!! Desde quando? Estou pasma!
    abs
    Jussara

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  7. Marcão, sempre pensei que tipo de pessoa pararia numa vaga reservada a pessoas deficientes.
    Agora já sei, e sempre lembrarei deste caso...
    Abs,

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  8. Eu acho que ele deveria perder os membros inferiores para poder, finalmente, parar na vaga de deficiente que tanto preza.

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