segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Homo homini lupus

O homem é o lobo do homem, esta é uma frase de autoria de Tito Mácio Plauto, dramaturgo romano, que viveu entre 230 a.c. e 180 a.c., popularizada pelo filósofo inglês Thomas Hobes e que vem sendo trazida ao longo dos tempos de modo a explanar a tendência humana de fazer do seu par uma presa, uma vítima de seus caprichos ou necessidades.

Desde os mais remotos tempos da história humana é possível observar notícias de seres humanos coisificando outros seres vivos ao seu redor: desde animais não humanos até outros humanos.

Algumas culturas tinham mais respeito pelos animais não humanos quando deles se utilizariam  para saciar suas necessidades. 

Indigenas, por exemplo, oravam pelo animal morto e agradeciam a alma deles por se sacrificarem para sua alimentação e vestimenta. Hindus tratam vacas como seres religiosos e intocáveis. Platão acreditava que era possível a reencarnação do homem em animais não humanos, como o cachorro, e recomendava certo respeito para com eles.

Outras culturas, porém, não tinham qualquer pudor em escancarar seu ideal de que os animais não humanos, assim como toda a natureza foi criada para estar a serviço do ser humano, como, por exemplo se pode ver do livro gênesis, na Biblia.

Contemporaneamente é possível observar diversos movimentos defensores de direitos dos animais: de pessoas que pregam contra o consumo de carne a pessoas contrárias a tradições (tourada e rodeio, por exemplo); de pessoas contrárias a casacos de pele usados na industria da moda a gente militando contra o uso de animais para entretenimento (em circo e etc...); desde pessoas contrárias ao uso de cobaias até aquelas contrárias a toda e qualquer forma da intervenção cirurgica em animais para fins estéticos ou de trabalho; desde os contrários à caça até os que dão suas vidas para preservar o habitat de animais selvagens.

Filósofos como Peter Singer e Schopenhauer ergueram suas vozes contra modo cruel como seres humanos tratam os animais em geral.
Recentemente, inclusive, os EUA se viu a volta de um julgamento numa ação que pretendia ver reconhecido que o SEA WORLD explora "trabalho escravo" das orcas e demais animais que ali vivem.

O fato é que todo e qualquer animal que nos sirva nas mais simples ou sublimes atividades estão ali como objetos e em nítido "trabalho escravo": seja seu peixinho de aquário; seja se gato de estimação; sejam os cães de companhia, de guarda, salva-vidas, farejadores e guias; sejam seus cavalos de passeio ou mesmo a vaquinha de leite; qualquer um está ali contra a própria vontade, cativo do homem e a serviço deste.

Aliás, o trabalho escravo anda junto com a humanidade desde tempos longínquos.

Escravos humanos, nossos pares, eram tratados como escravos para a prática de diversas atividades e em vários momentos da história.

Fazia-se escravos a partir do não pagamento de dívidas (v.g.: Grécia e Roma), a partir de prisioneiros de guerra ou pela simples ocupação das terras alheias (como se deu nas Américas, na Africa e na Oceania).

Havia escravos para todo o tipo de coisas: para o lido com o trabalho pesado (em Roma e na Grécia o cidadão livre, bem nascido, não podia perder tempo com o labor mas com artes, política, filosofia e atividades físicas); para auxílio em tarefas domésticas; para a diversão; para o sexo e para o sacrifício em arenas e lutas.

E a prática da escravidão persiste mesmo nos dias de hoje.

Desde abusos com força de trabalho escrava como aquelas que se tem notícia no México, Brasil e China, quanto outras formas mais sútis de escravidão.

Todos nós somos, de algum modo, escravos: de um temor, de uma paixão, de um ímpeto, de um vício, não conheço um sujeito plenamente livre.

E nos entregamos espontaneamente a essa forma de escravidão.

Agora a mais comum é a escravidão indireta, que vejo presente em nosso país: pessoas presas a necessidades básicas (comer, vestir, habitar...) que para serem satisfeitas tomam-lhe uma vida de trabalho penoso. 12 a 18 horas de trabalho diário. Alguma vezes sem descanso. Tudo para ganhar uma remuneração que mal lhe basta para saciar tais necessidades.

Se antes a alimentação, a vestimenta e a saúde dos escravos interessava ao seu Senhor, hoje os Senhores nem precisam mais se preocupar com isso: basta pagar um salário de fome e cada um com seus problemas.

Se antes os homens eram acusados de coisificar as mulheres, hoje elas mesmas se coisificam sem pudor. Até a prsotituição que, não raramente, tinha em suas protagonistas história de coerção familiar ou social, hoje é procurada por gente bem nascida atraída pelos altos ganhos.

Diversamente do que ocorria no passado, hoje as pessoas se entregam à exploração por vontade própria e quando fazem isso por necessidade se vê um resultado ainda mais nocivo e mais cruel do que no passado: afinal, escravo era patrimônio, era adquirido no comércio como outro bem qualquer e, precisamente por isso, tinha valor financeiro que não podia ser desprezado o que, de modo algum, ocorre hoje, época em que as pessoas já não têm mais valor.

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