quarta-feira, 27 de julho de 2011

Desfaçatez

Vivemos uma época estranha mas providencial. Tudo leva a crer que ninguém mais disfarça nada. É a época da desfaçatez.
Experimente lançar o olhar sobre a questão da violência, por exemplo. Eu, que nasci e me criei na periferia de São Paulo onde hoje é apenas um suburbio porque a periferia já está mais distante, me incomodo com o conformismo da população em geral diante da violência. Se antes os agressores eram batedores de carteira, trombadinhas e ladrões de bicicleta usando, quando muito, canivete ou faca, hoje a coisa mudou. Se antes havia "ética" na bandidagem deixando a violência armada para confrontos entre ladrões de banco e a polícia, hoje o buraco é mais embaixo. Se antes os ladrões eram perseguidos pelas vítimas e por vizinhos, hoje a covardia e o comodismo imperam. De um lado nenhum bandido se peja em usar arma, em roubar trabalhadores e em matar a troco de nada. De outro lado a população já não quer mais saber e deixa a coisa correr frouxa....pura desfaçatez de mabos os lados. Ninguém mais se envergonha de nada!
E a corrupção política, então??? Desfaçatez já nem é palavra apropriada para descrever a postura dos políticos diante do lido com a coisa pública e dos eleitores diante da nomeação de seus representantes.
Mas o que me causa espanto é o lido das pessoas umas com as outras. Para onde vcoê olhar verá umas pessoas tratando outras sem o devido respeito, seja na rua, seja no trabalho, seja nas relações íntimas.
Ninguém mais tem pudores. Dão toda sorte de escusas para justificar seu escancarado descaso e  desfaçatez no lido com o próximo. Desde horários não cumpridos, compromissos desrespeitados, ligações não retornadas, recados não deixados, obrigações desrespeitadas e deveres violados. Ninguém está nem aí pro circo...ligaram o "foda-se!"
E a internet tem parcela garnde de responsabilidade nisso: escondidos pela rede os seres humanos expõem seus namorados e namoradas ao ridículo postando vídeos íntimos para o mundo ver; xenófobos pregam abertamente contra gays, negros e nordestinos; terroristas usam a rede social para avisar as atrocidades que farão; políticos postam suas façanhas; homens e mulheres mostram sua sexualidade espontaneamente para os olhos perplexos dos mais conservadores que, aliás, também saciam suas perversões não declaradas protegidos pelo anonimato do pc no quarto escuro.
É essa mesma internet que por meio de correios eletrônicos  e redes sociais permite que as pessoas não olhem uns nos olhos dos outros ao ofenderem e mentirem.
Também é essa internet que permite que post experiências "on line"como a da menina que "tuitou" o racha do qual participava antes de sofrer uma cidente que a levou à morte.
E as autoridades? E o poder público? Eternos ausentes, antes ao menos tinham a pessoalidade entre funcionários e cidadãos como uma solução que hoje nem mais existe! Dane-se o contribuinte e suas dificuldades. Ninguém mais se envergonha do serviço publico não prestar serviço algum que preste. 
Na escola os professores tinham algum pudor no trato com os alunos. Educar era imperioso. Hoje, entretanto,  ninguém dá a mínima se material didático é ou não feito com palavras chulas e erradas.
Cristãos já não dissimulam mais: querem o direito legal de serem intolerantes como já deixaram bem claro dois parlamentares cariocas.
Mulheres já não dissimulam mais: casar com homem pobre, nem pensar.
A época da desfaçatez é também elucidadora porque nos mostra quem é quem.
É uma época reveladora essa nossa. Meio triste mas reveladora.

4 comentários:

  1. Adorei seu texto. Pura verdade.Fiquei atenta ao fato das mulheres não quererem se casar com homens pobres. Puríssima verdade. escuto isso todos os dias das meninas da minha família. Dizem q não casam. Preferem ficar sozinha, arrumar um bom emprego e ir levando a vida...Que coisa , né?

    Bjos Luzia

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  2. Aplausos
    clap, clap, clap...
    precisamos de muitos mais se indignando para ver se muda alguma coisa.
    bjs
    Jussara

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  3. Assim são os humanos, capazes de coisas geniais e estúpidas, quase sempre longe do que de verdade importa ...

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