terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Reclusão social

Pessoas com deficiência não têm seus direitos respeitados no país.

Essa é a opinião de 77% dos 1.165 portadores de deficiência entrevistados na pesquisa sobre a condição de vida dos deficientes no Brasil, feita pelo DataSenado, entre 28 de outubro e 17 de novembro.

O estudo foi realizado com base no cadastro do Instituto Brasileiro dos Direitos da Pessoa com Deficiência (IBDD), com 10.273 registrados.


Eu compartilho dessa opinião!

Não se trata somente de ver que os prédios públicos e particulares em geral não estão preparados para receber deficientes, não se trata apenas de observar claramente que parques e calçadas não estão aptos ao trânsito de deficientes. A coisa é mais ampla e o desrespeito é menos transparente justamente porque as pessoas comuns não notam as necessidades de quem é portador de necessidades especiais, ou seja, dos deficientes.

Do simples ato de estacionar em vagas exclusivas à falta de bom senso quando reformamos nossas calçadas em forma de "degraus", todos nós contribuímos para que a vida do deficiente seja bem mais complicada do que já é.

E ninguém parece se esforçar para resolver entraves do cotidiano dessas pessoas.

Alguns exemplos de dificuldades que não notamos e ninguém se preocupa em resolver:
a) quantas cadeiras de rodas estão preparadas para dias de chuva ou para ir à praia???? E quantas praias estão preparadas para receberem cadeirantes?;
b) quantos ônibus estão preparados para cadeirantes e cegos??? E taxi, então? Como o cego sabe qual o valor exato apontado no taxímetro sem ter que confiar na boa-fé do taxista???
c) quantos cardápios, identificações em prédios públicos ou particulares, placas de ruas, jornais e revistas podem ser encontrados em braile?
d) quantos sinais semafóricos para transeuntes têm audio disposição para orientar os cegos?
e) quantas embalagens estão adequadas aos cegos e deficientes visuais? Como eles podem "ler" as instruções e especificações dos produtos sem ter alguém do lado para ajudar? E quantos conseguem entrar com seu cão guia em ônibus ou taxi?

Tudo isso sem falar da limitação no mercado de trabalho mesmo existindo funções nas quais 100% dos funcionários poderiam ser cadeirantes, cegos ou portadores de outras deficiências, como é o caso de copeiras, telefonistas, trabalhadores em call centers e atendimento do COPOM, massagistas, depiladores e, até mesmo, atores.

Afinal, por que um personagem cego não pode ser interpretado por um cego verdadeiro? Ou porque não se inserir um personagem cadeirante com a tal deficiência em peças de teatros, filmes ou novelas?

Há, aí, um componente de preconceito e tabu: não se aceita campanhas publicitárias, revistas sensuais, personagens de novelas e de filmes que sejam, realmente deficientes porque, na verdade, choca.

Uma campanha publicitária da M.Officer naufragou justamente porque o público detestou ver a deficiência física de um modelo que é atleta e ícone em superação pessoal: Ranimiro Lotufo, da foto acima.

E depois falamos tanto em inclusão social. É a ética e o discurso vazios, sem praxe.

Da parte do Poder Público faz-se o que mesmo??? Nada de útil...

E nem poderia. Afinal não se pode esperar resultados quando um representante do Poder Público na qualidade de Secretário Municipal para esses assuntos (na maior cidade da américa latina), Marcos Belizário do PV, ao ser indagado sobre o que é uma pessoa excluída inicia sua resposta da seguinte forma: "Olha, quem é excluído, infelizmente, são as pessoas que por culpa dos que acham que são incluídos, passam a ser excluídos." De doer não é mesmo?????

Para os que quiserem ver a íntegra dessa frutífica manifestação intelectual de nosso secretário, acessem o link: Entrevista com Marcos Belizario sobre inclusão social.

4 comentários:

  1. Compartilho da sua indignação!!!

    Como se não não fosse suficiente a falta de adaptação de coisas e lugares... a ausência de respeito é o que mais humilha...

    PS: Como sempre, fotos perfeitamente incluidas!!

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  2. E o secretário humilha tb a inteligência de todos nós!!! Eu até que gostei da peça publicitária, mas vc está ceerto, socialmente não somos preparados!
    beijocas,
    Mari

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  3. Marcos, palmas pelo post, não conhecia a campanha da M.Officer, você tem razão nada, nem o público, está preparado para inclusão real de portadores de necessidades especiais.
    abs carinhosos
    Jussara

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