sexta-feira, 4 de março de 2011

O atropelamento dos ciclistas


O episódio do atropelamento dos ciclistas ocorrido no sul do país expõe uma faceta interessante de nossa cultura: a de nos vermos de modo segmentado e de não respeitarmos nossos pares.

De um lado os ciclistas protestando contra o desrespeito e pedindo mais espaço para poderem pedalar, de outro lado um cidadão que se revelou destemperado e  potencial homicida, cuja mídia afirmou ser inveterado em agressões e violações de trânsito.

Não há o que se questionar quanto à atitude do condutor do veículo que atropelou, como se estivesse numa pista de boliche e como se fossem bonecos sem vida, vários ciclistas inofensivos.

O pior é que, em público e em rede nacional, o cidadão mentiu despudoradamente alegando ter feito o que fez por sentir-se ameaçado!!!

Ele me fez lembrar algumas pessoas que conheci: abusadas, prepotentes, arrogantes e destemidas até que a casa caiu e se revelaram mentirosas e covardes.

Por outro lado, é preciso fazer uma reflexão: os ciclistas estavam corretos? Penso que não!

Claro que não deveriam ser vitimados com o desrespeito e a violência que lhes foi impingida.

Mas isso não retira o fato de que a postura deles não foi de cidadania, de respeito e de urbanidade que, no fundo, buscam para si mesmos.

Não se pode sair por aí violando o direito dos outros que, no caso em questão, era o de transitar livremente de carro pelas ruas da cidade. Tudo poderia ser feito sem que eles, ciclistas, impedissem o trânsito, sem que tomassem as ruas como fizeram.

Afinal, os demais cidadãos não são responsáveis pela inércia das autoridades em regulamentar vias apropriadas para ciclistas e os demais cidadãos também têm suas prioridades e, o que é mais importante, os demais cidadãos podem até não concordar com as reivindicações dos ciclistas de modo que não faz sentido que sejam prejudicados em seu direito de ir e vir por conta de um movimento que poderia ser feito de outra forma e com o mesmo impacto reivindicatório.

Eu gosto de andar á pé, sou ciclista desde menino, também sou motociclista e ainda ando de carro.

Sei bem dificuldades e os obstáculos que nossa terra impõe a quem passa por todas essas condições.

Eu mesmo saía pela cidade com grupos noturnos de pedaladas, assim como saio de dia para pedalar sempre que posso e por isso é que me sinto confortável em dizer que não obstante tenhamos que lutar por meios mais saudáveis e seguros de transitar pelas cidades, também devemos lembrar que cada qual deve ser respeitado em seu mecanismo de condução.

Todos merecemos respeito, somos uma única sociedade e devemos promover nossas manifestações, sempre que possível, respeitando os direitos dos outros e o bem geral.

Ou, então, fazemos passeatas e fechamos as vias públicas tendo avisado as autoridades para que estas possam nos auxiliar e para que os demais concidadãos sejam privados do transtorno de se verem obrigados a entrar numa manifestação que não é deles.

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